Ontem decidi criar coragem para postar porque fui surpreendida por duas iniciativas interessantes – A Retrospectiva 2011 no Twitter e a retrospectiva dos assuntos mais comentados no Facebook.
Quem acompanha os post pelo Twitter (@Izairathalita) deve ter visto alguns comentários breves que coloquei, mas o blog serve para justamente explicar melhor minhas impressões acerca dessa novidade.
Primeiro é importante lembrar que as Redes Sociais na Internet (ou RSIs para diferenciar das Redes Sociais não virtuais - SANTAELLA, 2011) surgiram para manter ou criar novos laços de relacionamento mediados por computador (RECUERO, 2009, p. 143). Sua finalidade não era informacional.
Quando o Twitter surgiu em 2006 sua pergunta principal, destacada no topo era ‘O que você está fazendo agora?’. Nos últimos cinco anos, a partir das trocas realizadas pelos usuários do Twitter dando-lhe uma característica de uma rede mais informacional – onde a informação passa a ser uma forma de obter prestígio e novos seguidores (Capital Social – RECUERO, 2009) a frase mudou diversas vezes para se adequar a essa característica redesenhada na rede. Hoje a frase principal do Twitter é: ‘Saiba o que está acontecendo no mundo agora’.
Pois bem. No momento que o Twitter coloca no ar a sua Retrospectiva 2011 com os assuntos mais comentados, histórias que surgiram na rede social e os números de Twittes por assunto, tem pontos interessantes que devem ser analisados (com base em muitas leituras que depois faço questão de deixar as referências aqui):
1 – A rede assume sua característica informativa como principal ‘capital social’. A Retrospectiva é um recurso típico das mídias de informação – Jornal, Rádio, TV, Portais informativos na Internet para relembrar ‘os fatos’ mais marcantes daquele ano. Para quem acompanha as notícias e para quem não as acompanha a retrospectiva tem aquela prerrogativa – como se diz nos estudos do Jornalismo – de uma tentativa de organização da sociedade.
2 – No momento em que o Twitter realiza sua retrospectiva aciona a memória construída colaborativamente pelos seguidores na rede social e que, em um dado momento, foi realizado em tempo real. Em Análise do Discurso este é um tema importante para pesquisas nessa área, ou seja, Mídia e memória discursiva. As retrospectivas das mídias em geral tem o papel de reforçar o discurso de lembrança-esquecimento muito freqüentes para que o leitor, usuário, expectador sinta-se parte dessa organização.
Para Pecheux há dois tipos de memória: A vivida pessoalmente e a vivida coletivamente e não necessariamente presenciada. Esta última se realiza principalmente através dos meios de comunicação. Para reforçar eis o que diz Ribeiro e Ferreira (2007) no livro ‘Mídia e Memória - A produção de sentidos nos meios de comunicação’:
“O jornalismo faz, não só do presente, mas do seu passado, as referências fundamentais da sua experiência testemunhal do mundo. É na reconstrução do fato da atualidade, sempre fugaz e também nos seus rituais de rememoração subseqüentes que o jornalismo dá dimensão memorável à experiência humana e sentido a si mesmo como sujeito social/institucional”
3 – A retrospectiva na rede social é uma tentativa de controle desse grande conteúdo informacional que circula e que no meio Internet parece difícil de ser mensurado onde a necessidade de organização é muito maior. Da mesma forma que acontece com outras mídias tradicionais há um filtro, uma seleção do que é e pode ser considerado mais importante de ser lembrado e, logo, não esquecido.
4 - Há a intencionalidade de se reforçar o papel da própria rede (como plataforma de informação, denúncia, articulação por parte dos usuários) quando ela destaca, por exemplo, sua importância no ativismo dos que protestaram no Egito e na ‘Primavera árabe’.
Há tantos outros pontos que destaco, mas que pretendo transformar em um artigo para minha atividade da Pós em Mídias Sociais (disciplina do professor Iano Flávio - @ianoflavio) - pois denotam aspectos como liberdade e controle de informações e, porque não, de memórias.
Voltaremos em breve. =D
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