Fui educada em uma escola
tradicional, religiosa, e lembro-me como foi a montagem da sala de informática,
cujas primeiras turmas a terem aulas de MS DOS e Windows foram justamente as de
ensino médio. Eu tinha 15 anos e fiquei absurdamente abismada com aqueles
computadores brancos de tubos, conectados, mas que, apesar da curiosidade de
todos, não eram associados às aulas. O que adiantava ter aulas de informática uma
vez por semana, se mal sabíamos em que poderíamos associar aquilo ao que
estávamos aprendendo? Naquela época, muitos professores eram resistentes, por
não saberem como usar as tecnologias em prol do ensino e da aprendizagem dos
alunos.
Hoje, as crianças e
adolescentes nativos digitais estão conectados pelos celulares e tablets e a
Internet está nas salas de aula, mesmo quando o professor se recusa a
utilizá-la como ferramenta pedagógica. Por mais familiarizados que muitos
professores estejam na utilização da tecnologia, ainda sabemos da resistência
quanto a uma associação que una as diversas ferramentas tecnológicas, a
Internet e as redes sociais no processo de ensino. Afinal, as redes sociais na
Internet são ambientes de conversação, entretenimento, relacionamento, mas
estar nas redes sociais parece ser sinônimo de dispersão. Será mesmo?
O CGI.br (Comitê Gestor da
Internet no Brasil) realiza anualmente a pesquisa chamada TIC Educação. O
resultado da pesquisa do ano passado, realizada entre setembro de 2014 e março
de 2015, foi divulgado na semana passada e trouxe informações sobre o uso dos
computadores e da Internet por 930 escolas públicas e privadas, de ensino
fundamental e médio, localizadas em áreas urbanas de todo o País. Foram ouvidos
1.770 professores, 930 diretores, 881 coordenadores e 9.532 alunos. O
levantamento mostrou que 96% dos professores utilizam recursos obtidos na
Internet para a preparação de aulas ou atividades com os alunos, sendo que 92%
deles fazem isso por motivação própria. Embora essa prática seja bastante
recorrente, mais da metade dos educadores concordam com a afirmação de que
ainda falta conhecimento sobre as possibilidades de uso pedagógico do
computador e da Internet. Muitos, devido às limitações de conexão que são
permitidas nas escolas; outros, por dificuldades de uso licenciado de programas
e sistemas.
Mas, o que há mesmo é uma
dificuldade em encontrar formas criativas de unir aquilo que é repassado em
sala de aula em atividades que possam ser complementadas com experiências no
on-line. Perceber as redes sociais como aliadas das aulas pode ser um
diferencial importante para ampliar a qualidade das aulas, por exemplo. A
atividade ou lição de casa, fugindo as famosas perguntas e respostas copiadas,
pode ser mais crítica e reflexiva, pode ser combinada com a criação de websites
contendo resultados dos alunos, blogs de grupos de trabalhos, experiências que
reúnam a convergência das mídias (textos, fotos, áudios e vídeos), grupos de
discussão nas redes sociais sobre os temas debatidos em aula, autores das
principais obras trabalhadas, novas formas de exploração de lugares em mapas
interativos, museus virtuais mundo afora, bibliotecas públicas e disponíveis
para downloads. Enfim, todo um potencial web pode e deve ser combinado à metodologia
de ensino na sala de aula, em que os professores sempre serão o centro das
atenções e os condutores para um conhecimento mais balizado dos diversos
saberes.
Neste momento, não basta
apenas ter capacitação e saber lecionar bem. É preciso não ter medo de ousar,
ser criativo e fazer daquelas ferramentas tão presentes na vida dos jovens e
das crianças um ambiente para se educar. Seja o texto escrito no quadro, na
tela do celular ou do computador, a presença e o conteúdo orientador dos
educadores fazem sempre a diferença.
*Este artigo foi publicado na coluna Mosaicos Digitais, Revista Domingo do Jornal de Fato edição de 27/09/2015.
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