domingo, 27 de setembro de 2015

Escola e Internet: amigos ou inimigos?


Fui educada em uma escola tradicional, religiosa, e lembro-me como foi a montagem da sala de informática, cujas primeiras turmas a terem aulas de MS DOS e Windows foram justamente as de ensino médio. Eu tinha 15 anos e fiquei absurdamente abismada com aqueles computadores brancos de tubos, conectados, mas que, apesar da curiosidade de todos, não eram associados às aulas. O que adiantava ter aulas de informática uma vez por semana, se mal sabíamos em que poderíamos associar aquilo ao que estávamos aprendendo? Naquela época, muitos professores eram resistentes, por não saberem como usar as tecnologias em prol do ensino e da aprendizagem dos alunos.

Hoje, as crianças e adolescentes nativos digitais estão conectados pelos celulares e tablets e a Internet está nas salas de aula, mesmo quando o professor se recusa a utilizá-la como ferramenta pedagógica. Por mais familiarizados que muitos professores estejam na utilização da tecnologia, ainda sabemos da resistência quanto a uma associação que una as diversas ferramentas tecnológicas, a Internet e as redes sociais no processo de ensino. Afinal, as redes sociais na Internet são ambientes de conversação, entretenimento, relacionamento, mas estar nas redes sociais parece ser sinônimo de dispersão. Será mesmo?

O CGI.br (Comitê Gestor da Internet no Brasil) realiza anualmente a pesquisa chamada TIC Educação. O resultado da pesquisa do ano passado, realizada entre setembro de 2014 e março de 2015, foi divulgado na semana passada e trouxe informações sobre o uso dos computadores e da Internet por 930 escolas públicas e privadas, de ensino fundamental e médio, localizadas em áreas urbanas de todo o País. Foram ouvidos 1.770 professores, 930 diretores, 881 coordenadores e 9.532 alunos. O levantamento mostrou que 96% dos professores utilizam recursos obtidos na Internet para a preparação de aulas ou atividades com os alunos, sendo que 92% deles fazem isso por motivação própria. Embora essa prática seja bastante recorrente, mais da metade dos educadores concordam com a afirmação de que ainda falta conhecimento sobre as possibilidades de uso pedagógico do computador e da Internet. Muitos, devido às limitações de conexão que são permitidas nas escolas; outros, por dificuldades de uso licenciado de programas e sistemas.

Mas, o que há mesmo é uma dificuldade em encontrar formas criativas de unir aquilo que é repassado em sala de aula em atividades que possam ser complementadas com experiências no on-line. Perceber as redes sociais como aliadas das aulas pode ser um diferencial importante para ampliar a qualidade das aulas, por exemplo. A atividade ou lição de casa, fugindo as famosas perguntas e respostas copiadas, pode ser mais crítica e reflexiva, pode ser combinada com a criação de websites contendo resultados dos alunos, blogs de grupos de trabalhos, experiências que reúnam a convergência das mídias (textos, fotos, áudios e vídeos), grupos de discussão nas redes sociais sobre os temas debatidos em aula, autores das principais obras trabalhadas, novas formas de exploração de lugares em mapas interativos, museus virtuais mundo afora, bibliotecas públicas e disponíveis para downloads. Enfim, todo um potencial web pode e deve ser combinado à metodologia de ensino na sala de aula, em que os professores sempre serão o centro das atenções e os condutores para um conhecimento mais balizado dos diversos saberes.

Neste momento, não basta apenas ter capacitação e saber lecionar bem. É preciso não ter medo de ousar, ser criativo e fazer daquelas ferramentas tão presentes na vida dos jovens e das crianças um ambiente para se educar. Seja o texto escrito no quadro, na tela do celular ou do computador, a presença e o conteúdo orientador dos educadores fazem sempre a diferença.

*Este artigo foi publicado na coluna Mosaicos Digitais, Revista Domingo do Jornal de Fato edição de 27/09/2015.

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