terça-feira, 20 de outubro de 2015

Em rede, sua privacidade é limitada



No romance “1984”, George Orwell imaginou uma sociedade totalmente vigiada pelo que denominou na sua obra de ficção de Grande Irmão (Big Brother), trabalho que o tornou mundialmente conhecido por provocar uma reflexão sobre os excessos do Estado e suas prerrogativas diante de cidadãos comuns. No livro, escrito em 1949 pelo autor sobre um futuro próximo, o protagonista Winston Smith representa o cidadão comum vigiado o dia inteiro pelas telas.

Ironicamente, nem o próprio autor poderia acertar em tantas coisas. Não apenas pela necessidade de vigilância constante que o cidadão permite em troca de uma sensação de segurança, o que viabiliza que se tenha câmeras por todos os lados, mas também por aspectos culturais que nos fazem abrir mão da privacidade, em troca do uso da tecnologia e de seus recursos na Internet.

A diferença em relação à obra de Orwell é que em tempos de conexão digital não há informantes outros, senão nós mesmos. Expomos detalhes sobre o que temos, fazemos e com quem estamos a todo o tempo. Nossos dados bancários, números de documentos, a empresa na qual trabalhamos, preferências, gostos, comidas, viagens... tudo está em rede, seja aberta ao público por meio das redes sociais, seja em bancos de dados governamentais, como declaração de Imposto de Renda, acesso à rede bancária etc.. Não há praticidade na vida contemporânea que não inclua um cadastro básico com nome, endereço e alguns dados pessoais.

É claro que até o início dos anos 2000, muito se falava sobre o quanto a Internet, criada inclusive com propósitos militares para a atuação em guerra, seria a principal “arma” dos tempos modernos para identificar pessoas e com os mais diversos propósitos militares e políticos das superpotências mundiais. Mas, foi em 2013, quando o ex-agente Edward Snowden, da Companhia de Inteligência Americana (CIA), revelou documentos que mostram como o Governo monitora os cidadãos, que veio em definitivo a comprovação: sim, somos todos vigiados e consentimos isso. Para Snowden, isso acontece desde quando se usa serviços de empresas como o Skype, o Google, o Facebook, os e-mails podem ser lidos, as conversas ouvidas, os conteúdos indexados e as ligações telefônicas rastreadas. É fato.

Imaginar que a Internet é campo de privacidade é uma grande ilusão, apesar de que a todo tempo tenta-se passar essa impressão. Então, resta apenas usá-la de maneira cuidadosa, sem ingenuidade. Na busca por informações e, especialmente, antes de fornecer qualquer dado pessoal, é importante ler as letras miúdas dos termos de aceitação, até (e principalmente) das redes sociais. Algumas já avisam que utilizarão todo o conteúdo postado por você para te oferecer produtos, outras dizem que não fornecem dados dos seus usuários. É importante tomar certas precauções e, apesar delas, ainda não se impede que dados pessoais sejam encontrados. Mas, é possível evitar muitos transtornos e usos indesejados. Afinal, tem muita gente à espreita, querendo dar golpes por aí, usando as mesmas ferramentas que você utiliza para se divertir. Todo o cuidado é pouco.

* Texto publicado na Coluna Mosaicos Digitais, Revista Domingo Jornal de Fato, edição de 17/10/2015

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